Benê Ricardo: a luta da primeira chef do Brasil e o cenário atual das mulheres na gastronomia

Mesmo sendo maioria na força de trabalho em bares e restaurantes, apenas 7% das mulheres chegam a comandar as cozinhas mais renomadas do país

A gastronomia brasileira tem muitos nomes marcantes, mas a trajetória de Benedita Ricardo de Oliveira, a Benê Ricardo, guarda um capítulo de coragem e pioneirismo. Primeira mulher a conquistar o título de Chef de Cozinha no Brasil, ela desafiou uma profissão dominada por homens.

Décadas depois, sua história ainda ressoa diante de uma realidade desigual: embora as mulheres representem 54% da mão de obra formal no setor, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), apenas 7% chegam ao comando de restaurantes estrelados no país.

Do pioneirismo de Benê à realidade dos números

Nascida em 1944 em Ouro Fino, Minas Gerais, Benê enfrentou uma juventude difícil, era órfã aos 14 anos, viveu em meio a maus-tratos até que seu talento na cozinha chamou atenção. A virada veio em 1978, quando venceu um concurso de receitas da Revista Cláudia e pouco depois, preparou um jantar para o presidente Ernesto Geisel, o que lhe garantiu uma bolsa de estudos.

Em 1981, aos 38 anos, Benê quebrou uma barreira histórica e foi a primeira e única mulher a se formar na turma do curso de 1º Cozinheiro do Senac. Seguiu como professora, consultora e uma chef respeitada, enfrentando preconceito dentro das cozinhas, mas deixando um legado de coragem. Faleceu em 2018, vítima de câncer.

Hoje, os números mostram que o caminho aberto por ela ainda não virou igualdade. As mulheres são maioria no setor, mas a liderança segue concentrada nos homens. Globalmente, apenas 6% dos melhores restaurantes têm chefs mulheres, e no Brasil o índice é de 7%.

Mesmo assim, nomes como Helena Rizzo, Janaína Torres Rueda e Manu Buffara provam que a transformação está em curso. Assim como Benê abriu portas, elas mostram que o talento feminino segue conquistando espaço e inspirando novas gerações.